O Desbravador da Unidade Nacional: as lições de vida de Cândido Rondon para o Povo Brasileiro.
- Cássio Nogueira
- 1 de dez.
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Cândido Rondon não foi só um militar ou um engenheiro. Ele foi um símbolo de integração nacional, de respeito às culturas indígenas e de compromisso com a realidade brasileira e aquele que vai além do eixo Rio-São Paulo. Rondon atravessou florestas, rios e sertões, conectando regiões inteiras que até então estavam isoladas, sem comunicação, sem estrada, sem qualquer assistência do governo central. E fez isso com coragem, disciplina e uma visão clara: unir o país sem derramar uma gota de sangue.
Nascido em 5 de Maio de 1865, ainda no Império, no interior do atual Mato Grosso, Rondon veio de uma origem simples. Era descendente de indígenas bororós e de portugueses, como grande parte do povo brasileiro. Órfão desde cedo, foi criado pelo avô e depois pelo tio, até entrar para o Exército com apenas 16 anos.Ainda jovem, apoiou o movimento abolicionista e republicano e participou da proclamação da República. Suas ideias seguiam o positivismo, que defendia a ordem e o progresso como caminhos para o desenvolvimento do país.
O Exército foi seu caminho para estudar e trabalhar. Em 1890, foi comissionado como engenheiro e começou a trabalhar na construção de linhas telegráficas.
E é aqui que começa sua verdadeira missão: integrar o território brasileiro. Ele ajudou a instalar a primeira linha telegráfica que cruzava Mato Grosso. Depois, trabalhou na ligação entre o Rio de Janeiro (Capital do Brasil nessa época) e Cuiabá (Capital do Estado do Mato Grosso) e esses projetos não eram só obras de engenharia eram formas de conectar o Brasil profundo ao resto do país.
entre 1900 e 1906 ligou-se Cuiabá a Corumbá, já próximo às fronteiras com Bolívia e Paraguai e durante esse trabalho, teve o primeiro contato com tribos indígenas como os Bororo. O mais marcante: não usou violência. Conversou, respeitou e contou com a ajuda deles e isso se repetiria por toda a sua vida. Em 1906, já tinha construído mais de 4 mil km de linhas telegráficas. O presidente Afonso Pena o encarregou de levar a comunicação até o recém-integrado Acre. No caminho, descobriu o rio Juruena e a tribo Nambikwara, até então hostil a qualquer contato externo do mundo atual (da época).


Suas expedições revelaram não só o Brasil geográfico, mas também o Brasil invisível: aquele dos povos indígenas, esquecidos, marginalizados e tratados como entraves ao progresso do estado na época. Rondon não via essa sua visão assim. Para ele, os indígenas eram parte do país. E não era só discurso pois quando foi atacado por uma flecha envenenada dos Nhambiquaras, sobreviveu graças à bandoleira de couro da espingarda. Mesmo assim, ordenou que ninguém revidasse. Preferiu recuar. Dizia: “Morrer, se preciso for. Matar, nunca.” Em 1914, ao lado do ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, liderou a Expedição Científica Rondon-Roosevelt. quando eles exploraram juntos o então Rio da Dúvida que antes o Rondon explorou-se e foi rebatizado como Rio Roosevelt e não era uma aventura doce e sim dificil que enfrentavam-se fome, doenças, perdas de aliados.

Mas terminaram vivos e com mais conhecimento sobre a floresta e seus caminhos. Não era aventura. Era um projeto nacional de reconhecimento do próprio território. Rondon também foi o primeiro diretor do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), atual FUNAI. Foi nomeado durante o governo do presidente Nilo Peçanha, que era negro e entendia a importância de valorizar todos os brasileiros da época apesar da grande oligarquia republicana eugenista trata-lo com rigidez e distorcendo a sua imagem colocando uma pele mais clara. Rondon defendeu os indígenas dentro do governo, numa época em que ninguém falava disso. Criou políticas, escreveu relatórios e tentou proteger as comunidades que conheceu e na década de 1920, foi usado pelo Exército para reprimir a Revolta Paulista de 1924. Não foi sua escolha, mas como militar seguiu ordens. Anos depois, ajudou a mapear fronteiras com países vizinhos. Durante o golpe de 1930, liderado por Getúlio Vargas, deixou o SPI. Só retornou em 1939, e mais uma vez colocou o foco na integração e proteção dos indígenas e dos territórios isolados. Aos 90 anos, foi condecorado com o título de marechal. Em 1957, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Morreu em 1958. Nunca foi só um homem da técnica. Foi um homem de princípios. E, mais do que tudo, foi um homem do povo. O Estado de Rondônia leva seu nome por isso. Porque se hoje aquela região está integrada ao restante do Brasil, é por causa desse homem. Rondon deixou uma lição: o Brasil só se constrói com homens com coragem ao que ele é de verdade. E isso inclui os povos indígenas, as florestas, os rios e a gente que vive longe dos grandes centros. Ele pode ter seguido uma doutrina positivista, mas sua prática foi concreta, humana e brasileira.













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